09.07.2008
Isso é bossa nova, isso é muito natural

Camila Antunes

Duas exposições celebram o cinqüentenário do estilo que revolucionou a música brasileira.
Bossa na Oca promove um show de tecnologia e interatividade e Bossa’50, na Bienal, exalta a
experiência de escutar canções na vitrola

"Lembra que tempo feliz, ai que saudade, / Ipanema era só felicidade. / Era como se o amor doesse em paz." Ainda que a bossa nova preencha o ar de nostalgia, como se percebe nesse trecho de Carta ao Tom, música de Toquinho e Vinicius de Moraes, esse não é o clima das comemorações dos cinqüenta anos do gênero. A exposição Bossa na Oca, aberta ao público a partir de terça-feira (8) no Parque do Ibirapuera, abusa da tecnologia para promover uma viagem emocionante e interativa ao passado. Ali, os visitantes poderão assistir, por exemplo, a um show virtual de Tom Jobim, Frank Sinatra e Ella Fitzgerald, entre outros grandes intérpretes de Garota de Ipanema. Suas imagens aparecerão em tamanho real e em três dimensões. Trata-se da mesma técnica usada nas apresentações da banda Gorillaz, cujos integrantes são personagens de desenho animado. Haverá também seis iPods gigantes, com os quais será possível escolher entre as faixas de 64 LPs. Na ambientação, destacam-se a reprodução do calçadão de Ipanema e a projeção do céu nas paredes laterais da Oca. A cada meia hora, a luz interna diminui, dando a impressão de que o barquinho vai e a tardinha cai...

"Optamos por uma linguagem jovem e digital", afirma Marcello Dantas, curador e designer da mostra. Como é sua marca, algumas atrações terão um quê de Disney World. É o caso do cubo com vedação acústica, em homenagem a João Gilberto. Nele, os visitantes podem sentir se o silêncio realmente existe. Ou se, no vazio, se escutam as batidas do coração. Na cúpula da Oca, outra experiência sensória. Após escolher um disco para rodar na vitrola, o espectador deitará numa grande espreguiçadeira, com um fone de ouvido na cabeça. Aí é só curtir o som olhando para o teto, onde serão projetadas imagens do mar. "Muita gente lembra onde estava e o que fazia quando ouviu pela primeira vez João Gilberto cantar bossa nova", diz o videomaker Carlos Nader, que divide a curadoria da exposição com Dantas. "Nós queremos que a experiência na Oca também seja inesquecível." Está prevista uma mostra com catorze filmes inéditos, que somam três horas de duração. Há cenas curiosas, como aquela em que Tom Jobim responde em português à pergunta de um apresentador de televisão americano sobre a garota de Ipanema. Outras raras, como o lendário show brasileiro de 1962 no Carnegie Hall de Nova York e o depoimento de Nara Leão justificando sua opção pela música de protesto: "Rompi com a bossa nova depois de viajar pelo Brasil e descobrir que havia pessoas pobres". Miguel Faria Jr., diretor do documentário Vinicius, fez uma seleção de depoimentos que ficaram de fora de seu longa, lançado em 2005, e Dora Jobim, neta do maestro, dirigiu Vou Te Contar, que será projetado numa sala com banquinhos de piano para acomodar os espectadores. "Nossas escolhas valorizam a dimensão humana da bossa. Mostraremos aquilo que o movimento trouxe de pensamento inovador", comenta Dantas, contratado pelo Itaú para dirigir a exposição que custou "um bom