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Exposição usa alta tecnologia para mostrar os 50 anos da bossa nova

Márcia Abos

SÃO PAULO - Prepare-se. O que promete ser a melhor exposição do ano vai começar em 7 de julho na Oca do Parque do Ibirapuera e deve durar dois meses. O preço dos ingressos ainda não foi definido, mas é certo que a entrada às terças-feiras será gratuita. Tecnologia de ponta será usada para contar a história dos 50 anos da bossa nova e a praia de Copacabana, cantada em versos, será, pelo menos enquanto durar a exposição, parte do cenário paulistano.

No subsolo da Oca será recriada a praia, com direito a iluminação capaz de produzir o nascer e o pôr-do-sol. Enquanto se caminha à beira mar, dez histórias interessantes sobre bossa nova serão contadas. No mesmo piso do prédio projetado por Oscar Niemeyer, o público poderá sentar-se em um bar e assistir a um show com Nara Leão, Tom Jobim, Vinícius de Moraes, João Gilberto, Stan Getz e Frank Sinatra. Como? A mesma tecnologia usada para que a banda virtual Gorillaz possa fazer shows, o programa Eyeliner, vai projetar esse time de músicos de primeira linha no bar da Oca.

- A Oca é a bossa nova feita prédio - explica Carlos Nader, um dos curadores da exposição, ao lado de Marcello Dantas, sobre a escolha do prédio de Niemeyer para a mostra, completando que tanto o arquiteto brasileiro quanto João Gilberto buscaram na raiz da cultura brasileira referências para suas criações.

O térreo do prédio contextualiza o surgimento da bossa nova, incluindo o período que precedeu o movimento. O público vai saber o que acontecia no mundo e no Brasil por meio de uma linha do tempo interativa e também verá obras de arte do período. Seis janelas da Oca serão jukebox hi-techque lembram o filme "Inteligência artificial". O movimento dos braços e mãos dos visitantes permite que discos e músicas sejam escolhidos e ouvidos. O repertório é composto por canções famosas da bossa nova e também por algumas pérolas pouco conhecidas do grande público. Pode-se ver os encartes e as capas dos álbuns.

- A bossa nova é uma música tecnológica e tecnologia é algo feito para desaparecer. A alta tecnologia não deve ser notada - diz Nader.

O primeiro andar do prédio é dedicado à santíssima trindade da bossa nova: João Gilberto, Tom Jobim e Vinícius de Moraes. São três salas. Em cada uma delas, o visitante acompanha um documentário curto sobre um destes gênios da bossa nova. Finalmente, o segundo e último andar da Oca é dedicado à contemplação. Primeiro, uma experiência sensorial. Se tudo o que João Gilberto pede ao público em seus shows é silêncio, o visitante vai descobrir o que é estar em silêncio absoluto em uma câmara anecóica, onde entram duas pessoas de cada vez. Dentro dela, pode-se ouvir as batidas do coração e o ranger dos ossos.

Após o silêncio, é hora de ouvir João e contemplar, deitado, uma imensa projeção do mar no teto arredondado da Oca. Ao que tudo indica a experiência será inesquecível. Assim como foi a invenção da bossa nova para o Brasil e o mundo. É esperar para ver. Como disse Caetano Veloso, "melhor que isso, só o silêncio".

Após a temporada em São Paulo, os organizadores estudam levar a exposição ao Rio. Também há planos de apresentar a mostra em outros países.