Educação Pública - Cultura
Tambores d' África

Karla Hansen

Se você pretende ir à exposição "Arte da África", prepare-se para soltar sua porção tribal e tocar o tambor! É, sem sombra de dúvida, do batuque de oito enormes tambores, instalados na rotunda do CCBB, que pulsa a vitalidade da mega-exposição. Além de reproduzir um som grave e arrítmico - pois que cada pessoa segue o seu próprio ritmo -, que ecoa por todo o prédio do Centro Cultural, o visitante vê imagens de obras de arte de diferentes grupos étnicos, sendo projetadas na superfície do tambor. A cada batida, uma imagem. Se a batida for mais lenta e pausada, a projeção será do mesmo modo, se for mais rápida, o visitante-ritmista produzirá uma espécie de videoclipe. Essa não é só a diversão mais concorrida da mostra, ela consegue fazer com que o público participe do evento de forma ativa, penetrando na obra não só pelo olhar, mas também pelo toque, descobrindo-se artista e entrando em contato com suas origens ancestrais. Afinal de contas, seja de pele branca, amarela ou negra, somos todos filhos da grande mãe África, como já provou a ciência.

Nas Galerias

Para ver e não tocar são mais de 300 peças originárias de 31 países africanos, que foram produzidas entre os séculos XV e XX. Elas fazem parte da coleção do Museu Etnológico de Berlim, na Alemanha, que possui o maior acervo de arte africana do mundo. São máscaras, esculturas, instrumentos musicais, objetos de rituais, adereços da realeza, design etc., que documentam a cultura e a história da África Subsaariana. A entrada para a exposição é franca, mas vá sem susto: as filas não causam desânimo como se poderia esperar de uma mega-exposição como essa. Elas estão localizadas na entrada lateral do CCBB e servem apenas para o funcionário lhe dar um selo (que, aliás, é uma beleza!). É uma espécie de identificação e controle de número de visitantes. O trânsito pelas galerias flui bem, mesmo durante a semana, quando o público em geral concorre com grupos maciços de estudantes. Pelas estimativas do Programa Educativo do CCBB, até o último dia 31, quando esta repórter esteve no local, já haviam visitado a exposição cerca de 100 mil pessoas desde o dia da abertura (14 de outubro). Entre essa centena de milhares de pessoas, 20 mil eram estudantes. Professores ou diretores de escola que pretendem levar turmas para a exposição devem procurar a coordenação do Programa Educativo para agendar visitas com antecedência. O telefone é (21) 3808-2070 e os agendamentos podem ser feitos de terça a domingo, de meio-dia até às 18 horas. A procura para a exposição "Arte da África" está sendo tão grande, que os coordenadores abriram novos horários para atender às escolas e, também, novos serviços de transporte, já que para as escolas públicas e ONGs o CCBB oferece transporte gratuito.

Mas vamos deixar de lado as estimativas numéricas e ir direto à mostra propriamente dita. Pela iluminação das galerias, sempre escura, tem-se a impressão de se estar entrando num local sagrado e creio que, por essa razão, as pessoas tendem a ficar mais silenciosas. As obras ficam dentro de caixas de vidro, iluminadas, mas o entorno é todo escuro. As informações sobre as obras estão gravadas sobre o vidro, em letras pequenas, dificultando a leitura, como se isso não fosse muito importante, mas sim a força expressiva das peças. Para fazer justiça aos responsáveis pela montagem da mostra, registre-se que na entrada de cada novo ambiente da galeria, tem-se uma explanação genérica, escrita sobre a parede negra, em letra de bom tamanho, sobre o que iremos assistir naquele sítio específico.

A mostra foi dividida em três módulos temáticos: escultura figurativa, máscaras e instrumentos musicais, e objetos de uso pessoal. A "Arte da África" ocupa todos os espaços expositivos do CCBB, com esculturas de madeira, de bronze, máscaras, tronos, insígnias e adereços da realeza, objetos de uso pessoal, figuras de ritual, figuras ancestrais e de poder, instrumentos musicais, entre outros.

Além da exposição dessas peças, a mostra apresenta outras atrações, que trazem a arte africana contemporânea com toda a sua força. Nas chamadas artes performáticas entram as performances propriamente ditas. Elas acontecem na rotunda, em quatro apresentações diárias, de 10 minutos cada uma, onde os ritmos, o vestuário e o idioma africanos criam vida e interagem com o público. Quando se trata de teatro, temos que usar, infelizmente, o verbo no tempo passado. As apresentações das três companhias representantes da atual produção teatral africana e uma companhia brasileira, cujo trabalho está centrado nas raízes africanas, já aconteceram, entre os dias 15 de outubro e 02 de novembro.

Mas ainda há esperança para os cinéfilos, para os amantes da música e para os que têm interesse em participar do debate de idéias. A programação de música, por exemplo, começa nesta primeira semana de novembro e vai até o dia 30. Em quatro espetáculos semanais, músicos de Camarões, Cabo Verde, Senegal e Chico César, do Brasil, se apresentam de quinta-feira a domingo no teatro, sempre às 18:30 horas. Nesse caso, o interessado deverá estar munido não só de esperança, mas também de agilidade para conseguir um ingresso antes que acabe, além de algum dinheiro no bolso, é claro, para adquirir o passaporte para o devido entretenimento.

Já os cinéfilos podem se preparar para a mostra "O cinema do século XXI - Cinema e Vídeo e Debates", que está em cartaz até o dia 16 de novembro. Serão apresentados filmes e vídeos com temáticas contemporâneas e, também, debates com cineastas africanos. Para melhor acompanhar a programação, é mais indicado consultar os meios de comunicação convencionais, ou pegar a programação impressa do CCBB, que é distribuída gratuitamente no prédio do Centro Cultural.

Outra boa opção para participar de corpo e alma do evento é reservar um lugar em uma das palestras do "Ciclo de Conferências Arte da África", que acontece aos sábados, a partir das 16 horas, e vai até o dia 6 de dezembro. O Ciclo de Conferências reúne artistas, professores e intelectuais brasileiros e estrangeiros que fazem palestras sobre a arte tradicional da África, sobre como esta arte é recebida no Brasil e sobre as influências que a arte africana exerce na arte contemporânea universal.

O Programa Educativo na Mostra Por uma convenção mundial, os museus só abrem a partir das terças-feiras e, no caso do CCBB, para o público em geral, não antes do meio-dia. Mas se o público é formado por grupos de estudantes, previamente agendados e acompanhados pela professora ou responsável, o Centro Cultural pode abrir suas portas às 9 da manhã. Esse mesmo grupo pode ter à sua disposição um transporte gratuito e atividades exclusivamente desenvolvidas e voltadas para suas características específicas e área de interesse. Além do horário matutino, a organização da mostra de arte africana esticou o horário noturno: nas quintas-feiras, excepcionalmente, o Centro Cultural fica aberto até as 22 horas.